A verdade de um sem teto

O que fazer meu amigo

quando já se apagaram as luzes

e lá fora sopra um vento gelado.

Como saber se da próxima esquina

Virá uma bomba

ou o princípe que salvará a donzela.

Não sabemos.

Eis, eis agora um ranger de dentes

Famintos por comer a carne que lhe falta

A carne roubada da mesa porque baixo é o salário.

E então vem a noite

A noite fria, gelada, isenta de qualquer

possibilidade que codifique em abraços

a solidão do corpo e o vazio do estômago.

E dirão, talvez, os falastrões,

que nada será eterno que não mude.

Parvos, medíocres e podres, eis o que lhes direi!

E talvez eu durma e acorde

e talvez nem durma

A fome é a insônia dos sem abrigo e barriga vazia.