Ninho de cobras

O que foi? Quem foi? O que me trouxe aqui?

Mais uma lasca de memórias retirada da árvore a qual já cruzei tantas vezes. É a desgraça passageira o medo que se renova a cada esquina passada.

O que foi?

Nada, mas um nada que é tudo e esse tudo não se dilui jamais. Sempre heterogêneo, possibilitando várias entradas e saídas, histórias e sensações. No fim, elas se unem e revelam ser uma coisa só: o nada de sempre.

Quem foi?

Ora, quem... O mesmo de sempre, o causador de toda essa bagunça mental. Insistente, vem como uma serpente, devagarinho, e dá o bote. A presa permite ser morta, ela gosta. Ela gosta... Descubro, então, que estou imerso num ninho de cobras.

O que me trouxe aqui?

Tudo o que já disse. Me puxaram para o finito sofrimento de usar uma máscara, a máscara das cobras. Eu posso, assim, viver sem temer totalmente, disfarçando o tempo inteiro quem, de verdade, eu sou.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 08/12/2020
Código do texto: T7130734
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