Mendigo

Mendigo

Nas esquinas, no comércio,

nas ruas, nos portões...

encontro sempre um coitado

a mendigar o pão.

Pessoas vêm e vão,

Mãos generosas doam

Desapiedadas repulsam

Olhares que arfam

Entre brandura e aversão...

Talvez sejam outros mendigos

a quem paradoxalmente nunca faltou o pão.

E o que será que mendigam?

Uma porção de alegria,

um abraço fraterno,

o mínimo de atenção

uma companhia nada incerta,

apoio, afeto, compreensão...

Não terem as mãos estendidas limita a percepção

do nosso olhar apressado,

de baixa resolução

se o registro foge ao óbvio e inevitável.

Combinamos ser gentil

atirar qualquer moeda

que rola e retine em bacia de metal.

E então seguimos em frente tão pura e simplesmente

talvez sem jamais perguntar

o que se passa por trás

da complicada colcha de retalhos

tecida pelos sentimentos que silenciam todo mendigo.

(Sandra Lima Costa Melo)