A Gente Vai Embora...

Foi nesse último final de semana, quando ao me dirigir para o local onde iria votar acabei me encontrando com dois amigos meus que eu já não via há mais de dois meses por causa desse maldito coronavírus... E como felizmente, pelo menos aqui no Rio de Janeiro, acabou aquela velha história da 'lei seca' em dia de eleição, fomos os três para um barzinho ali do Leblon para 'matar as saudades e molhar a goela, jogando conversa fora'...

Evidentemente que o assunto principal era a politica; mas houve um certo momento que quando nos demos conta já estávamos todos nós intrínsecamente divagando sobre a efemeridade da vida, já que falávamos de parentes, amigos e conhecidos que já não mais estavam entre nós... E foi então que me lembrei de um texto de autoria do jornalista e professor Sérgio Cursino, intitulado "A Gente Vai Embora", que tinha 'tudo a ver' com aquela nossa conversa, texto esse que agora resolvi compartilhar com vocês:

A GENTE VAI EMBORA e fica tudo aqui, os planos a longo prazo e as tarefas de casa, as dívidas com o banco, as parcelas do carro novo que a gente comprou pra ter status.

A GENTE VAI EMBORA sem sequer guardar as comidas na geladeira, tudo vai apodrecendo, a roupa fica no varal.

A GENTE VAI EMBORA, se dissolve, a gente some, toda nossa importância se esvai, essa importância que pensávamos que tínhamos..., a vida continua, ela segue, as pessoas superam e vão seguindo suas rotinas.

A GENTE VAI EMBORA, as brigas, grosserias, impaciência, infidelidade, tudo isso serviu para nos afastar de quem só nos trazia felicidade e amor.

A GENTE VAI EMBORA e o mundo continua assim, caótico, muito louco, como se a nossa presença ou ausência não fizesse a menor diferença. Aqui entre nós, não faz. Nós somos pequenos, mas nós somos arrogantes, prepotentes, metidos a besta.

A GENTE VAI EMBORA. E é bem assim: Piscou, num estalo, a vida vai. O cachorro que eu amo tanto, ele é doado. O cachorro se apega aos novos donos. Os viúvos se casam de novo, eles andam de mãos dadas, apaixonados e vão até ao cinema.

A GENTE VAI EMBORA e nós somos rapidamente substituídos naquele cargo que a gente ocupou na empresa. Nós somos substituídos no outro dia. As coisas que nós nem emprestávamos são doadas, algumas jogadas fora.

Quando menos a gente espera, A GENTE VAI EMBORA. Aliás, quem é que espera morrer? Se a gente esperasse pela morte, talvez a gente vivesse mais. Talvez a gente colocasse nossa melhor roupa hoje, talvez a gente comesse a sobremesa até antes do almoço. Talvez a gente esperasse menos dos outros. Talvez a gente risse mais, saísse à tarde para ver o pôr do sol, talvez a gente quisesse mais tempo e menos dinheiro.

Hoje o tempo voa, amor. A partir do momento em que a gente nasce, começa essa viagem, essa jornada fantástica veloz com destino ao fim, rumo ao fim - e ainda tem aqueles que vivem com pressa! Eu ainda tenho pressa! O que é que eu estou fazendo agora com o tempo que me resta?

Que possamos ser cada dia melhores. Que saibamos reconhecer o que realmente importa nesta nossa breve passagem pela Terra. Só isso. Até porque, A GENTE VAI EMBORA. A GENTE VAI EMBORA.

(Texto do jornalista e professor Sérgio Cursino)

E.R.Calabar