Descedente
um dia, na pequena Pojuca,
minha avó conheceu meu avô.
estava ele montado num cavalo branco,
mas não era um príncipe.
ela era prometida a um jovem marinheiro.
pensou, pensou... escutou o coração.
e num tempo idílico e registrado
o noivo marinheiro ficou no passado.
minha avó e meu avô se casaram
e para Pirangi foram morar,
casa na cidade, casa na fazenda de cacau.
tiveram sete filhos: três homens, quatro mulheres.
em certo momento da história
no auge da segunda guerra, soube minha avó
que seu antigo pretendente morrera no meio do oceano
ele a sua esposa abatidos pelo ódio alemão.
e em Itabuna meu avô ficou e lá morreu.
e minha avó contava histórias e estórias
que me fascinava e emocionava.
um dia eu perdi minha avó e perdi meus tios,
minha mãe.
hoje eu vejo o quanto a gente vive de perdas.
não é fácil para um ser humano ver
pelo caminho de sua vida as cruzes fincadas
entre saudades e entre lágrimas.
na história de minha avó e meu avô
agora só resta eu, poeta e solitário.
*Pojuca, Pirangi (Atual Itajuípe), Itabuna; cidades do interior da Bahia.