Cessou a pressa




O mundo pode ser restrito por opção, quando nele você se sentiu seguro ao longo dos anos, sabendo que ali seria o lugar em que queria estar, nele projetou um futuro, mas o futuro chegou antes do tempo programado, não podendo nesse lugar permanecer, ele se tornou muito grande para uma ave sozinha. Resta dar a última olhada com tempo suficiente para desse pequeno mundo quase encantado, despedir-se com o gosto de vitória por tudo nele haver dado certo, e cheia de saudades sair, não é fácil, de certo modo é parecido com um relacionamento que você supôs ser para a vida toda e chegou ao fim...

Por mais que você não ligue bens materiais, não por isso, bate a tristeza não poder levar cada pedacinho de uma vida, cada parede foi cúmplice dos seus ciclos, fez parte de cada amanhecer esperançoso, parte das suas angústias e aflições na espera por dias melhores sempre com muito amor.

O que levar senão lembranças do que viveu com coragem, entusiasmo e a sabedoria adquirida nas lições que a vida deu. As lembranças de cada sorriso de suas eternas crianças, a algazarra pelo corredor e quintal, tudo isso é vida. A saudade já chegou, cada canto seu me conta uma história e guarda as marcas dos sonhos aqui construídos e com sucesso realizado, não tive nenhuma desilusão, a não ser no mundo lá fora, por isso fica mais difícil ir sem olhar para trás, nem preciso procurar minuciosamente, mas ainda tem o sal das lágrimas de emoções vividas nem sempre felizes, claro, a vida tem a sua função de fazer chorar e sorrir, mas milhões de vezes de alegria. É como um arquivo que agora se esvazia.

Incrível é que você não perdeu a sua graça,  a sua luz, está como à me dizer - Vá que eu entendo, os seus compartimentos é como se fossem gavetas de grandes divisões onde em cada pasta suspensa à moda antiga, ao revirarmos amiúde, quantas páginas  nós encontraríamos, amareladas, outras rasgadas para não relembrarmos o que deve ser de vez esquecido, mais outras páginas preciosas para se guardar sempre. A simbologia das palavras nem é preciso, porquê cada pedacinho de chão seu, faz passar o filme das nossas vidas. As minhas pedras preciosas, tesouros de valores incalculáveis, feito uma mágica do tempo, em pássaro se transformaram com fortes asas e cada um voou para longe deste ninho.

 
Restaram-me algumas páginas em branco, as quais nelas pretendo escrever, mas olharei a vida longe daqui, por outro ângulo. Sentirei falta dos pássaros costumeiros das minhas manhãs de sábado, já tão conhecidos meus, e que não se assustavam ou voavam mais quando eu me aproximava para colocar água nas plantas. Será um recomeço? - Não, é a continuação, pois a vida me abre outro ciclo, obedeço, espero ter no meu novo ninho a mesma felicidade que levarei daqui. É certo que essa águia não tem mais o bico resistente, mas existem tantas colinas, numa dessas, solitária pousarei com calma, a pressa cessou, o meu processo de renovação será doloroso, mas naturalmente se fará, dele não irei fugir. O meu coração de águia certamente resistirá, espero.

Liduina do Nascimento



PRECISO


Querer é quase um futuro, presente é alcançar,
passado é meio sufoco, sábio...  é não lembrar.
Os pensamentos são feito nuvens,  que correm
com os ventos, sem poder de decisão ou rumo,
para lá e para cá...

A vontade governa a alma, pondo numa prensa
quem sofre é o coração, pulsa, agitado sem
poder  parar... ou encontrar o que o sofrimento
amenize e a vida dê uma recompensa.

Não sei de fato, do que preciso para encontrar a
felicidade, mas sinto a sua falta, que domina, 
e muitas vezes me assusta, no fundo é de você
que eu preciso, a sua ausência muito me custa.

Sou asas, sem poder voar, mar e não sei nadar,
sou um peixe no deserto, sem vida, não
tenho você comigo, resta-me somente sonhar.
Enviado por Liduina do Nascimento em 21/11/2020
Reeditado em 15/09/2021
Código do texto: T7116825
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