O Interceptado

Que trato é este? Que leva o ser a um outro lado, com o pé aqui?

Que sinto participo, num estar que não é daqui, mas deixa-se estar, aqui?

Ouvir música clássica, ocidental, ou oriental, Cantos Líricos e músicas ancestrais;Tchaikovsky fala comigo, Mozart, Chopin, e as demais melodias que não decaíram em desuso no decorrer do tempo.

Como que todos também tenham participado do “sentir” estar do outro lado, aqui, tendo conectado com o mesmo fenômeno, a grandeza sem limite que tem além das paredes do tempo, que quando revelada, faz interromper a noção de continuum da vida.

Assistindo a apresentação de orquestra sinfônica; pianistas, violoncelistas, violinistas no solo, aquilo que ocorre, é como estar junto, a Alma come da mesma comida, santos e rebeldes, amantes e endurecidos passam numa química superior de desmanche, ficam iguaizinhos, como crianças sendo amansadas.

Para estar, basta acionar o botão.

O corpo físico e suas funções toma lugar na segunda posição, e o Ser ocupa o lugar na linha de frente, ficando Ele e a alma no standby , usufruindo, satisfazendo de um indizível que não dependeu de esforço algum para acontecer.

É como apertar um botão. Tristeza não fica, ira, dor e enfermidades, as feridas abertas do eu e do mundo anestesiam-se num instante.

Prazer, desejo satisfeito não são os nomes, mas emerge um bastar denso , que inocula qualquer reação do interceptado, fazendo-o desistir de querer, ansiar, materializar o sentimento de completude que apodera, restando ir ao reduto da insignificância da vontade, e usufruir do momento.

Onde Impera algo além de qualquer império que existe no mundo da lógica, da conquista, do domínio, do prazer, da dor, do horror, do fulgor.

A potência em ação é na medida do infinito, que eclode, trazendo um vislumbre do que pode ser o respiro, a intimidade de Deus.

Não há espaço para agradecimento pela graça do alcance da Graça de sentir tudo isto. Somente existe lugar para o bastar.

Ar.