Uma Amiga Oportuna

Por que estás aflito? … diga-me o que tens?

Não podes me ajudar… não insistas…

Se não posso, porque cantas?

Não entendo… presumes mesmo poder me ajudar?

Ah!? Entendi… pensas que sou fraca ou não possuo este poder…

Saibas, pois, estéril hominho…

Sou mais antiga que os teus pensamentos.

Mais doce do que o vinho!

Mais perene que o firmamento.

Reis me ouviram e temeram… e aos meus pés sucumbiram!

Um a um, os vi morrendo, como um vapor sumindo…

Sou porta-voz da vitória e proclamadora do fracasso!

Deuses me dão ouvidos, demônios ficam calados…

Ah! … estéril hominho…

Se soubesses quem falas contigo…

Falarias tu comigo… não como quem falas a um estranho

…, mas com quem falas a um amigo!

Uns dizem que nasci da tristeza, outros, da felicidade.

Mas nasci, e não morro, essa é toda a verdade!

A morte me corteja… a vida me aguarda!

Meus olhos são tristes como as sombras, meu rosto, relampeja na alvorada!

Ah! … estéril hominho…

Nunca estive tão longe… para deixar-te sozinho!

Agora que choras vergado…

Tateando a ermo, procurando um caminho…

Cá estou, verme do solo…

Cá estou, estéril hominho!

Mas… mas… não compreendo? … eu estava aflito, e cantava em meus desalentos…

Quem és tu?? … Como mudastes os meus sentimentos?!

Ah! … nobre homem da terra!!!

Agora que me ouves e me enxergas…

Vá! … cate tua lira…

Enxuga este choro da cara!

Porque é chegada a hora de revelar-te quem é que te fala!

Sou leve como um sorriso, sou profunda como o mar.

Tamborins me anunciam, harpas ressoam ao me entoar!

Sou a canção dos aedos… vis-à-vis com a beleza!

Sou fúnebre por natureza… sou espinhoso arvoredo.

Sou tudo o que precisares… até um doce veneno!

Sou a voz dos amantes, a arte do musicista.

Do artista? … Sou o dom. Do poeta? … A inspiração!

Mas hoje, sou apenas uma amiga, salvando-te dessa triste angústia.

Meu nome?? … Música!