SE TUDO FOSSE ISSO
É preciso cuidar disso como se fosse isso.
É preciso cuidar daquilo como se fosse aquilo.
Delas como elas.
Deles como eles.
É preciso tratar tudo como algo, e jamais tratar algo como tudo.
Porque tudo não é somente algo.
Se algo fosse tudo não seria algo.
Se alguém fosse tudo não seria alguém.
Pra ser alguém, é preciso estar longe de ser tudo.
É preciso não querer ser tudo, pra poder ser alguém.
É preciso cuidar do agora... Agora. E do depois... Depois.
É preciso cuidar da madrugada... Na cama. E do sustento... No trabalho.
É preciso não misturar os espaços.
É preciso cuidar da arte... No nada.
Não confundir os espaços das coisas.
É preciso tomar cuidado com as palavras,
Pois elas cabem em muitos espaços.
É preciso cuidar das palavras como deuses.
O poder da criação pertence a elas.
E o da destruição também... deusas-palavra.
É preciso doar palavras como se doa um deus.
É preciso outorgar as palavras, sabendo-se que se está
A oferecer um deus a alguém.
Um deus plebeu,
Um deus profano, mas um deus.
E como junto de um deus tem que haver alguma outra coisa,
Senão não há por que ser deus,
É preciso saber que oferecemos muito mais que palavras:
Oferecemos deuses e suas razões... razões-palavra.