MISTURA DOLENTE DE TUDO O QUE SENTE

ou

POEMA DE UMA RIMA SÓ

 

Que a minha poesia não estampe o irreal.

Que não expresse a minha dor nem o meu cansaço

Nem o meu sorriso.

Ela não deve retratar nada.

Que a minha poesia não tenha nada do que penso de mim,

Porque tudo o que penso que sou é apenas o que quero ser

Ou o que me disseram que sou.

Toda definição é um remoto não existir.

Se ela tiver de ter alguma coisa de mim:

Que tenha aquilo que eu sou sem saber.

Minha poesia não é um espelho pra mim.

Pra você, pode até ser um palco, um espelho, um segredo, um susto, nada...

Mas pra mim, não sei...


Que a minha poesia tenha idioma, gestos e dança próprios.

Que seja diferente como todas as coisas;

Que seja filha de todas as coisas,

Mistura dolente de tudo o que sente.

Que o corpo e a alma da minha poesia não sejam os restos

Da minha mente, do meu querer...

 

O querer é produto da ausência e a ausência não é vida.

Que a minha poesia seja vida.

E como a vida é uma ordem, uma destruição construída;

Que a minha poesia, construção destruída,

Respirada e sem medida,

Pelo menos seja lida.

Iguaçu
Enviado por Iguaçu em 25/10/2007
Código do texto: T710027
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