Dispersão
Vejo cores e imagens embaçadas sem óculos. A miopia trai a visão. A retina teima em enxergar côncavos quando mira-se os convexos. É complexa miríade dispersa no momento escorregadio. As palavras não querem responder... A semântica rejeita os signos e os significados. A dispersão e a indecisão navegam plenas num horizonte infinito. Talvez possamos decidir mais tarde... Talvez a própria indecisão, seja por si só, uma escolha. A omissão famigerada diante do evoluir que naufraga.O primeiro obstáculo é um iceberg. Uma lágrima escorre em cadência explícita... Uma mágoa também escorre discreta e límpida na alma em frangalhos. Gestos escorregadios, indecisos, fracos e distantes. Um alheamento patológico como se fosse possível estar e não estar simultaneamente. Zumbis a procura de cérebros para se alimentarem. Somos personagens de nós mesmos, escrevemos o script, ensaiamos todos os dias, e erramos o tom. Confundimos bemol com sustenido.  Como uma gralha desafinada que quer avisar as outras sobre a existência de farta comida a disposição. Ou o aviso pungente da fome avassaladora a limar do planeta aquela espécie de ave. As maritacas cortam o céu grasnando em tom verde. Será a esperança dadaísta? Tomara que sim.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 28/10/2020
Reeditado em 03/11/2020
Código do texto: T7098580
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