O Som dos seus Sapatos
Composições, Bethovens, ou Mozarts jamais decifrariam esta canção, música em dias nublados, uma guitarra incessante em dias de sol, me faz dançar chacoalhar meu corpo por inteiras colunas colossais. Sentir a crosta terrestre tentando arrebatar-me de seus caminhos.
Eu ouço o som de seus sapatos, me faz pensar em que está por vir.. Seria realmente você, não seria toda esta lembrança emprestada? De saltos finos, agulha Luíz XV, ou um bom solado pra afastar-me dos seus caminhos.
E atenção, um alfinete se debruçando ao solo, e a terra começa a tremer, o espetáculo é distante e já significa sucesso. És tu que vem calçada, de pés guardados, protegidos do meu cantar. Já que não posso, cantas tu o som que quero ouvir, sem batuques sozinhos, mas sintonia de melodia, ritmo penoso ao fim das calças de tergal.
De couro, rasteirinha, havaianas, cano alto, plataforma, jacaré, cobra, cada qual com seu eco e gargarejo, das vozes roucas que falam a mesma língua.
Uma soprano, um barítono não te qualifica, vocalistas absurdos, rasgando o tempo em nudez mortal... Diferente de to, que vens toda bela, as vezes de anabella. Na tua armadura sólida de carnificina me esguichando olhares fatais, que te vejo num brejo, onde os sons se confundem e não sei mas quem possui o dom mágico de me fazer o outro de sonhos que sempre sonhei.
É tensão, no mínimo perante o máximo são teus passos que eu aguardo. Quando vem é regozijo, morte de tristeza, trevas do não, do que não posso, já que sempre devo a ti uma misericórdia virgem que constitui os antigos pensamentos, os ressaltados livramentos. Serei o guardião dessa batalha entre céus e céus meu anjo, porque nas escrituras eu vi que era a teus pés que meu mundo gira.
Sem por mais declamar, o silêncio inóspito habita, é estação de nova era, mudanças a se eternizar.
Ouço o som dos teus sapatos, a dura realidade que ele me traz, minha paixão frenética, azul e lilás.
Ouço o som dos teus sapatos, e a felicidade prospera, porque assim tu chegas, e sei que não estou mais sozinho. Somos por inconseqüência eu, tu e saltos marcados, passos sádicos, só o som dos seus sapatos, até que venhas descalças e não mais pertencerei.
Douglas Tedesco – 10/2007