Reflexo Perdido

A tua lembrança emerge na noite em que me perco. Perco-me, na noite em que te encontro, como um reflexo pálido, cheirando a loucura. Chorando sua saudade, o nosso fim. O nosso fim existiu, como num filme, aquele que você disse que nossa vida não era um filme. Nosso elo não foi um filme, foi um clássico único, sonho de um poeta louco. Ah, quando me perco, te encontro em minhas ruínas, ruínas da nossa primeira vez, vez que nos conhecemos. Você sorria toda vez que me ganhava e dizia pra todos, que estava comigo. Comigo, fiquei eu, sozinho. Tão sozinho quanto uma estrela fria, que só brilha por instinto. A tua lembrança, me deixa louco, sinto teu perfume, que vem do nada... E por um momento, apenas um momento eu te sinto ali, aqui, aqui ou ali. Escuto tua voz, te vejo dormir, velo teu sono, e enlouqueço do seu veneno meu vicio. Veneno do suplício, em que me perdi por te amar. Amar deveria ser pecado, neste mundo de loucos, mundo de tortos, de corpos capazes de esquecer, como a rosa de fumaça, que desaparece em meio à obscuridade, na verdade, teu reflexo em minha vida é o que ficou. Como uma nódoa, um câncer que me escravizou. Teu reflexo é a coisa mais louca que existe, pois tua presença está em mim, me toca como o ar me toca. Arrepia-me, como frio arrepia. Arde como a chama de um vulcão em erupção. Em tuas mãos fui a mais bela melodia que alguém já pôde ouvir. Teus olhos eram minhas bússolas. Teu beijo foi a melhor conquista da minha história. Fomos personagens, do conto mais real que já existiu. Com você provei do gosto do perigo, do vasto erro. Não me amar foi o seu pior crime. Teu ato mais cruel. Ato mais cruel que um ser humano pôde cometer. Teu ato mais cruel foi acender em mim, um sentimento, que você não foi capaz de suportar. Sentimento que sozinho, eu queimo e derreto como uma vela. Teu reflexo estranho e confuso me persegue, como persegue o brilho da lua o poeta que vaga sozinho nas ruas. As ruas tem tantos nomes, mas não encontro o caminho que me levará a você. Que me levará a você, só pra te ver sorrir, mais uma vez, te ouvir cantar tão engraçado, o seu cantar. Te ver dançar, como aquela vez. Aquela vez você não era apenas um reflexo pálido, perdido. Aquela vez, você me ligou pra dizer que me amava, foi a primeira vez e foi a última vez que me disse tal insensatez. Acho que está chegando a hora de eu terminar esta carta, e ver se eu consigo dormir. E esquecer você, seu reflexo em minha vida, nós dois fomos a pior tragédia deste mundo. Apenas um rascunho amassado e jogado no lixo do romancista. Fomos felizes, eu acho que fomos, algumas vezes. Não há tempo para o esquecimento. Mas já passou da hora de te esquecer. Mas sua presença está em mim, e mesmo chorando, você não vai embora pra sempre. Eu preciso perder a memória, preciso te perder, na linha do tempo. Preciso te esquecer para me lembrar de viver. Só consigo te esquecer quando consigo dormir. Mas como te esquecer? Se você partiu, mas ficou em mim?

@versosnalua

Alison Silva
Enviado por Alison Silva em 13/10/2020
Código do texto: T7086631
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