GAIVOTAS.

E, de tudo, restam-me as palavras. Por onde, em símbolos, despejo os pensamentos. Por vezes, tão embaraçados...em pontos e nós. No entanto, sob controle as tenho. Será? Benditas palavras! Lidas, relidas, faladas, caladas. E na falta de uma ou outra, apelo aos sinônimos e mantenho os significados (tão sem significâncias). Noutras vezes, tão (des)necessárias, atormentam-me o pensar. Proseiam sem parar e nada dizem. E quando me recolho à solidão...Malditas palavras! Provocam-me na escuridão. Tento não pensá-las, deletá-las e manter vazia a mente. E, quase consigo. Contudo, mente vazia é porta de entrada e não vejo saída. Escrevo e mantenho o anonimato, já não interessa, apenas escrevo. Ao destinatário, envio carta branca, com plenos direitos de leitura ou não. Já não espero por respostas, atrás das linhas, me escondo, oculto os sentimentos e também o seu nome. Feito gaivota, voa uma carta, num vento sem direção. E na dobradura do papel, lá, estão elas; palavras. Dispostas em frases de amor e saudades, tantas...Pairadas em brisas, sobrevoam seu endereço. Rodopiam em gaivotas num céu azul de verão.

Elenice Bastos.