O Doador e o Ceifador
Caminhando naquele conhecido e escuro corredor,
Um Doador
Encontra-se com um Ceifador.
São bons, ouvidor e falador,
E iniciam um diálogo sobre dor.
Como virastes um Doador ou Mandador?
No início eu era vendedor,
Mas, como não havia comprador,
Passei, então, a doar a dor.
Como falastes, um Mandador.
E tu, como virastes um Sangrador?
Eu era apenas um montador,
Ou se preferir, um destruidor.
Vivendo como catador
Achei que poderia ser um empreendedor,
Mas, encontrei um mal pagador,
Um enganador.
Quando percebi já era um matador.
Qual é o seu nome?
Me chamam de Doador Condor,
E tu, como devo chamá-lo?
Meu nome é meio constrangedor,
Então, chama-me pelo apelido, o Ceifador.
Seu nome não pode ser mais esquisito que Condor.
Acho que é sim. Sou registrado como Devedor.
É um pouco constrangedor,
Mas, não é feio ser devedor.
Feio é comedor, metedor, bronzeador e por aí vai…toda forma de dor.
E tu, gostas de ser um Doador?
Já doou, na vida, muita dor?
Ser trabalhador da dor,
Na verdade, é meio desolador.
Acompanhando o povo sentir-se sofredor.
Eu deveria ter sido contador.
Contar dores deve ser mais animador.
Mas a vida é muito rápida e agora não adianta ser um reclamador.
Concordo contigo, e com dor.
Acho que até já virei seu admirador.
Eu gostaria que não me vissem apenas como um matador.
Sou um simples servidor,
Cumpridor da natureza do Administrador.
Mas não há, pensando assim, um só visualizador.
Sou visto, sempre, como Ceifador ou Carregador,
Que leva almas ao Acusador.
Ninguém lembra que sou também um libertador,
Que livra pessoas da dor,
Que tu, como bom Mandador,
Fostes o causador.
Também concordo contigo, e com dor.
Tu és xingado, desde o enterrador
E até pelo cremador.
Olhe, enxergas também aquele flash brilhador?
Acredito que é o fim do corredor.
Sentes o odor?
Sim, vejo e sinto. Será que veremos o Criador?
Primeiro, talvez, um acareador
ou julgador.
Mas o que ele julgaria? Sou um predador
A mando do Administrador,
Portanto, não sou um pecador.
Será que nos aguarda algo aterrador?
Se for aterrador,
Então voltamos à terra. Acredito em algo abrasador
Ou reformador.
Bem vindos ao ardor,
Sou o Zelador.
Nosso Credor
Aguardo-os no andor.
Sabes porque estou no corredor?
Não sei, apenas zelo pela nossa dor.
E eu, que faço aqui se sou um Ceifador?
Não sei, apenas zelo pela nossa dor
Chegam então, num grande bastidor…
Não há ninguém como recebedor.
Ouve-se a voz de um orador:
Aqui temos um indicador
Mostrando que o Imperador
Está descontente com o Expedidor.
A partir de agora,
Terão auxílio de um Mediador,
Que será um Agitador
E também um Chamador.
Tomem o elevador
E retornem à função, sem sentir pudor.
E o Ceifador, também um questionador:
Posso saber o nome do Auxiliador?
Mostra-te como amador,
Lá embaixo, tu serás conhecedor.
Ele aparecerá quando já estiver assustador.
Será melhor que qualquer ditador;
Que qualquer vírus avassalador,
Pois, deixará o mundo mais competidor
E será dolorido, mortal e devastador
Como nunca visto ao redor.
No elevador:
Parece que será tentador,
Algo muito dominador.
Dizem que já trabalha o tal semeador
Vazando mentiras em celular e computador,
Que se multiplica com todo novo adorador
E, no tempo do Fiador
Será tarde e perturbador.
Como disse o Orador,
Pior que qualquer vírus ou Ditador.
Então, continuaremos a Doar e Ceifar
Enquanto aguardamos esse acelerador.
Se existe pensador, inexiste ouvidor.