Não signatário

Enxergo, não sem algum ruído, o espaço que ocupamos entre o tempo do real e o tempo do sonho.

Em noites agitadas, acordo sem tê-lo em matéria, mas conheço todos os átomos do que se manifesta mais forte do que o pensamento.

Blues, blues, blues... soam as notas para aclimatar a partida do que nem sequer fora.

Vejo o futuro no fundo dos olhos, às vezes na sombra longa do quarto escuro e frio.

Não é trivial suportar todas as partidas e despedidas de si, do que se projeta, dos limites do mundo.

A vida ficando evidentemente cada vez mais breve faz emergir um texto.

Um texto, que é um mecanismo de resiliência, contrapõe-se à morte iminente dessa janela de oportunidade que não volta.

Quisera dobrar o tempo para lhe conhecer entre o passado e o futuro e saber que soube ser aquele que pudera ser, sem esse terror quente e árido habitando as vísceras.

Com os olhos semicerrados e a cabeça pendida não aceito sem protesto essa linearidade besta das coisas desfilando de fora à retina, não aceito esse hábito besta de lhe ver imaterial sem antes termos feito a história sob nossos termos e designações.