DESABAFO

Eu sinto falta.

Sinto tanta falta de mim que me parte o coração.

Sinto falta dos meus olhos cintilantes, dos meus ouvidos curiosos e do meu sorriso entusiasmado.

Não reconheço mais a imagem do outro lado da tela, aquela que o espelho reflete não é quem sou.

Estou encarcerada dentro de mim, gritando sussurros silenciosos que sou incapaz de ouvir.

Onde foi que eu me perdi?

Em que parte do caminho eu me abandonei?

Não tenho forças, estou coagida em mim.

Atrofiei minha fé e enclausurei minha alma em uma cela cheia de medos.

A esperança é apenas uma imagem sombria em meus olhos pálidos.

Sinto falta de quem fui, dos sonhos que tive, da alegria que me contagiava.

Tudo está seco ao meu redor.

Nada me surpreende.

A curiosidade não me atrai mais.

Morri no auge da liberdade.

Me anulei.

Me paguei do rascunho da vida.

Abdiquei a caminhada.

E hoje, tenho saudades de mim, daquela menina que sonhava conquistar o mundo, mas que não conseguiu conquistar o seu próprio interior.

Aos poucos estou morrendo, despetalando-me entre um bem me quer e outro, na esperança de um amanhecer sem dor.

Xícaras de Prosa
Enviado por Xícaras de Prosa em 10/10/2020
Reeditado em 07/04/2021
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