Me conte sua história - Diálogos
 
- De repente eu me vi seguindo num caminho, de repente eu me vi, vi o caminho e então paro; e então converto.
 
- Porquê?

- Lembro que primeiro me enxerguei e logo em seguida o caminho, mas, desconhecia o destino.
- E porque seguia?

- Sei lá! As paisagens eram lindas, apesar de efêmeras. Mas, também era possível maquiar, dar umas pinceladas do meu jeito caso necessário, enfim.
 
- E porque não continuou?

- Não sei ao certo. Mas, a possibilidade de maquiar passou a me incomodar.
 
- Pensei que fosse um beneficio. Não era?

- Claro que era, até deixar de ser. Parece que comecei a enxergar melhor.
 
- Você era cego?

- Sim e não.
- Sim e não? Desenvolva o ‘sim e não’.
 
- Claro. Assim que cheguei por aqui fui posto num caminho e não me informaram o destino. O meio no qual eu vivia apresentava muito pouco sobre o todo, apenas o que lhes interessava. Pintavam o caminho, a falta de saída, me conformavam e até conseguiram me anestesiar. Também me fizeram descobrir coisas que maquiavam a caminhada caso ficasse muito difícil. Posto isto, entendo que enxergava o suficiente para não dar uma topada nos pedregulhos que encontrava, ao passo que não enxergava que, muitas vezes, os tais eram postos ali propositalmente. Por isso digo sim e não; tudo bem?
 
- Se bem entendi, algo lhe foi revelado e isso mudou todo o sentido do todo e o todo, na verdade, passou a ter sentido. E como você mesmo diz, “ao passo que” de lambuja pôde se perceber no sentido errado, então abortou aquela caminhada convergindo para a atual.
 
- Sintetizou bem. Na questão dos ‘sentidos’ a única convicção que tenho é sobre àquele que refere-se a direção, de fato foi necessário convergir; quanto àquele que trata da razão, muita coisa ainda não faz sentido.
 
- E se pudesse maquiar o que ainda não se encaixa – o que não faz sentido?
 
- Deixaria de fazer sentido o convergir. E porque você me diz que ‘ainda’ não faz sentido? Não me lembro de ter revelado tal esperança.
 
- Percebi que além de animado com o novo caminho e as novas paisagens, há uma certa clareza e sensatez no que diz. E tens me passado a sensação de que haverá evolução - na verdade é visível que ela tem se construído.
 
- Vejo que és profeta (risos). Na verdade essa minha esperança talvez não tenha embarcado nessa viagem com tanta convicção. Mas, ela vem se construindo.
 
- Fale sobre suas expectativas nesta construção de sentidos e convicções.
 
- Entender quem eu sou, de onde vim, a que pertenço e se pertenço qual o propósito de pertencer, o que significa nascer, crescer, envelhecer, ou não, e depois morrer, a transcendência do criador e o paralelo com a semelhança da criatura.
 
- Complicado. Acredita que irá conseguir?
 
- Tenho construído - degrau por degrau, passo a passo, km por km, vitoria por vitoria, derrota por derrota, leitura por leitura e relacionamento por relacionamento – uma virtude, um conceito de crença, de confiança a qual chamamos de fé. Então, de fé em fé, hoje tenho mais fé do que ontem porque tenho caminhado e na caminhada muito tem sido revelado. Então eu não somente acredito, tenho fé.
 
- Mas, em algum momento titubeou? Chegou a desacreditar da nova proposta; da nova rota?
 
- Mais do que eu queria; menos do que esperavam; o suficiente para o amadurecimento. Afinal, a fé inicia-se nas dúvidas.
 
- Foram obstáculos sinuosos; você, os outros e o processo de amadurecimento. Precisou de ajuda?
 
- Claro que sim. Um dos segredos deste caminho é que nunca estará sozinho. Há uma necessidade de auxilio mútuo, comunhão e sinergia. Outro segredo é que ao passo que nos conhecemos, fica cada vez mais latente nossa incapacidade. Contudo, conhecendo nosso propósito a opinião dos outros não nos deixa mais atormentados e a libertação dessas amarras faz parte do processo de amadurecimento. E convenhamos - “crescer dói né meu filho.”
 
- Podemos voltar a pensar no destino? A nova rota te leva
de onde pra onde?

- Deixa eu respirar fundo pra tentar concatenar as minhas idéias (risos). Se eu dissesse que não tem linha de chegada seria suficiente?
 
- Você praticamente me desmotivaria a te acompanhar.
(risos)

 
- Se chegou a cogitar tal possibilidade, adianto que não se arrependeria – Não por minha causa. Mas, profetizo que ainda caminharemos juntos. (risos)
 
- Se eu pelo menos souber de onde e pra onde vou; quem sabe?
 
- Em algum momento descobrirá um segredo que nos fora escondido por  muito tempo, mas lhe darei um spoiler. Acredite, aquele que te convencerá de tal decisão habita aí, dentro de você.

- Até que ele me convença; Qual é a origem e o destino? Sem abstrações.

- Margerite Yourcenar me ensinou que “o verdadeiro lugar do meu nascimento foi aquele onde, pela primeira vez, lancei um olhar inteligente sobre mim”. Depois entendi tratar-se de um renascimento, só não me pergunte se é possível entrar novamente no ventre. Senão, ao invés de profeta te chamarei de fariseu (risos). Assim sendo, te apresentei a origem; para mim foi a partir desse lugar aí. Falaremos agora do destino. E aqui entra aquela parada transcendental, aquela parada da maturação da fé e aquela impressão de loucura para os ‘dito’ sábios. Tudo isso porque: hoje creio que não há linha de chegada, já não creio mais que seja o céu (meus filhos ainda crêem) e os ‘dito’ sábios dirão que tratasse de um processo de fuga, fraqueza, rigidez intelectual e etc. Fato é que acredito que o destino não é um lugar (tipo céu, terra, inferno) e que não temos fim, nem nós e nem o caminho! Então continuaremos eternamente. Ah! Lembrando que, sem monotonia, com alegria, graça, trabalho, festa e com o plus da ausência da dor e do sofrimento.

- Não me desmotivou, mas ainda há abstrações. Afinal, aprendi a vida toda que a única coisa que temos toda certeza é da morte. Como assim não temos fim?

- Não é tão difícil assim. Mas, de fato num primeiro momento causa estranheza olhar por este prisma - é uma nova conversão de rota/olhar. Eu também aprendi desta forma e não é mentira, na verdade morremos. Mas, aprendi que continua. E que continua para todos, sem exceção! porém, em condições diferentes dependendo da caminhada e do caminhante.

- Então, quais seriam as condições para continuar?

- Posso sugerir que reformule sua pergunta? Na verdade confesso que não fui muito claro quanto as condições. Mas, esclareço que o continuar é pra todos.

- Se bem entendi; quais as condições para continuar da melhor forma então.

- Entendeu o necessário. Na verdade é um pouco mais radical, uns continuarão bem e outros mal e as condições não são impostas, mas sugeridas. Somos convidados para uma caminhada; uma nova caminhada e no caminho, com tudo que nos é revelado, entendemos que as sugestões são incontrolavelmente aceitáveis e aceitas. Passam a fazer parte do nosso dia a dia e mesmo enxergando a porta de saída sempre aberta, decidimos ficar.

- Quem sugere?

- Quem nos convida, nos convence e nos acompanha. Está tudo escrito para que não se esqueça, para que possa meditar e, principalmente, para que compartilhe.
 
- Quero ler.

- E caminhar?
 
- Acredito que sim.

- Vou compartilhar contigo o manual da vida -  As Sagradas Escrituras. Num primeiro momento entenderá que encontrou o caminho, logo depois verá que foi encontrado. Então um convite lhe será feito: “ - Segue-me.” É irresistível!
Te aguardo no caminho.