As vezes a conta não fecha
- "Ás vezes a conta não fecha.
As vezes a conta não fecha mesmo."
Foi o que escutei da minha psicóloga na última sessão.
Contadora que sou de formação, jamais imaginei deixar um balanço por fazer, as vezes não fecha, e quando não fecha algo errado há.
O trabalho só termina quando fecha.
Precisa fechar.
E lá estava eu, querendo fazer o mesmo com as minhas questões.
Eu estava me exigindo fechar uma conta que de fato não fecharia nunca.
Não fecharia porque a vida não obedece ao método das partidas dobradas.
Não fecharia porque a vida não se resume a CPC's, NBC's, IFRS's e mais uma caralhada de normas.
Não fecharia, porque na vida, diferente da contabilidade, cada débito não corresponde a um crédito de igual valor.
E eu preciso resistir a tentação de querer fazer fechar.
Na vida só a partida, contrapartida nem sempre existe.
Balanço se encerra a cada exercício, na vida os encerramentos não obedecem predeterminações.
Vida é orgânica, contabilidade não.
Algumas metáforas não cabem.
Preciso resistir a tentação de fazer correspondências.
Depois dessa fala, encerramos a sessão, o silêncio me tomou.
A fala tão certeira ressoou.
E todas as vezes que me pego querendo insistentemente esgotar alguma questão, querendo alcançar uma compreensão que por vezes ainda não me é possível, eu digo baixinho: "As vezes a conta não fecha, Mari."
Não é redondo, sabe? Não tem exatidão.
A vida é imprecisa que nem a contabilidade.
E nem sempre tolera ajustes como tal.
E aí, eu silencio como silenciei naquela sessão.
E reaprendo a sustentar a dúvida, a imprecisão, as não-conformidades.