Liberta

Voarei nas asas dos sonhos,

me vestirei de poesias...

Já que sou feita de recomeços,

Retalhos, pedaços, fragmentos

de tudo que fui, de tudo que sou

daquilo que existiu, e de tudo que restou.

Todos os escombros da dor que assolava, foram as bases pelas quais fui moldada, voarei nas asas do tempo, meu pretenso inimigo de um passado sombrio, hoje meu mais fiel amigo,

escudeiro, é nele, que nos momentos onde a dor se aproxima, eu posso enfim me abrigar.

Tive minhas asas cortadas, impedida de voar, de sonhar, me mantive enclausurada, esquecida, sufocada, onde a garganta queimava, o coração rugia como bicho feroz querendo saltar, o silêncio setenciava dia após dia minha alma sedenta que pouco a pouco morria.

E no instante que me entregava a dor que me consumia, fui envolvida pelo suave conforto da poesia, que me libertou a voz, fez o grito mais forte, preso na garganta, ressoar como lira numa canção que toca, devolveu a nobreza de minhas asas, me fez no encanto dos versos morar.

Juntei todos os arremedos, meus tantos mil pedaços, memórias de tantas vidas sentidas, a dor, o caos, o pavor, e todas as suas facetas antes escondidas transbordaram de mim, ecoaram em poesias.

Não me limito quando da ponta dos meus dedos, dos meus devaneios e desejos, surgem explosão de tantos versos, gracejos...

eu moro onde minha alma me levar, sou peregrina, caminho por entre os sonhos, rasgando o véu que esconde a beleza das palavras, baterei forte minhas asas, que me libertam de todas as amargas amarras que o silêncio calou por tanto tempo, essa alma minha que em prisão gritava.