Fracassada

A beleza não lhe predicava de pronto, embora tivesse favorecida a sorte de consegui-la: bastava querer-se significativamente. Ao contrário porém, era dada a inquirições sem importância ao próprio existir, fustigando-se pelas garras sui generis da auto degradação.

Deu-se ao completo desmantelo da pele com rabiscos precários e desproporcionados. Deformidades provocadas sem critério, sem história. Inventava maneiras de tornar-se hedionda e repulsiva, cria-se ignóbil e vã, num autocídio diário e cruel.

Jamais amealhara afetos ou querências, naufragava em fármacos assassinos na expectativa vã de um alívio mediato.

Sentia-se ao gargalo estreito das lágrimas ácidas e sufocantes. Não reunia fúria bastante para a autopiedade, desnutria suas expectativas de estar no acervo biodiversificado, o pertencimento lhe era um sonho distante.

Queria um mundo próprio, onde não se esforçasse para encontrar beleza nem aceitação, na utopia de uma possibilidade tentou desperdiçadamente não existir no plano. Como todas as amarguradas tentativas que fez na vida, naquela também fracassava. Além da antelação pela feiúra de seu rosto, conviveria agora com o humilhante fracasso diante da morte.

Cyntia Pinheiro
Enviado por Cyntia Pinheiro em 04/10/2020
Código do texto: T7079204
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