Estava chegando a hora de datilografar os rabiscos. Se eram versos bons ela não sabia , mas, o polaco vizinho que trabalhava numa gráfica que imprimia um jornal levou-os para publicar no jornal de uma cidade próxima e, depois levou mais alguns e ela acabou ganhando uma coluna no jornal e o velho pai trouxe de presente uma caixa bordô e dela exalava um cheirinho nacarado de flores, e dentro uma maquina de escrever portatíl OLivetti, studio 44, agora era preciso aprender a datilografar. Foi na escola do padre Santo, aquele gigante de batina longas, que Zocha e a irmã se matricularam. Escola Remington Rand, e lá as duas meninas no meio dos adultos a aprender os segredos da nova arte. Os padres se alternavam a ensinar, e tinha até aquela padre ousado que muito inclinava-se para ensinar as meninas a teclar. Pilhas e pilhas de reticentes linhas iam sendo datilografadas, a casa naufragando, a mãe vendendo a geladeira, o velho pai agora doente e ausente, o céu negro e o vento soprando gélido por todos os lados, e as meninas escrevendo, até que se precisou vender a máquina de escrever....
Um dos Poemas publicados
Cinzas perdidas
O mundo sorrindo canta
uma melodia suave de silencio brutal
confundem-se vozes ao som de orquestras
são as horas que não passam
são luzes dos sonhos recostados ao vento
que a brisa triste meus sonhos levou
fiquei só embriagada sem beira
ao léu abandonada por voce destino
que com crueldade meu amor sepultou
e nesta noite estiolada de estrelas
uma flor abre-se ao som de clarins
são pétalas que bailam na noite adormecida
sinais de alegria imagens sem fim
Mas o que vejo são cinzas perdidas
que vagam ao longo das ruas desertas
no silencio das noites frias
ou claridade dos dias em festa
e de voce meu amor
nem a lembrança ficou
(publicado no JOrnal Folha de Campo Largo, cidade de Campo Largo - Pr,
ano de 1965 posteriormente na Revista Maçonica "Amizade",
entre os anos de 1967;68), em Curitiba - PR, numa coluna mensal em que passou a escrever.)