LIRISMO SEM RIMA
Ás vezes entramos em profundo desalento. Nada entra na rima. Mas deixa estar - não escrevo com rima mesmo...deixa estar.
Quando nada se encaixa parece que estamos em preparo para a morte. Talvez seja isso mesmo, a mente vai avisando pro corpo para mudar o norte porque a morte deveras está pronta e sem rima.
Lembrei-me subitamente dos versos de Mario Quintana:
*
Nítido, no espelho
Meu quarto projeta-se
Em parte nenhuma...
Um dia estarei,
Em parte nenhuma?
É como me encontro, em um quarto, vendo o quarto projetado sem mim...sensação de desespero "sumir-se", desaparecer, deixar de ser. Talvez desencarnar - sair da carne não seja de todo ruim, mas morrer sem sair da carne sim, é ruim. Estar e não ser, respirar e não viver, amar e não experienciar,
Olhar-se e não se ver - morte em vida.
Enquanto não rimo, cismo de sair dessa cisterna que mentalmente criei, escalo minhas paredes internas, as unhas ficam sujas de terra, de lágrima de choro...escalo...saio e vejo sol vindouro...ouro que a pele aquece...é estou vivo...suspiro - eis-me riso, eis- me vivo já não quero voltar a morrer...quero reflexo belo no espelho...vento na cara...risada de piada...leituras na madrugada... -companhia que seja tu...tudo...- você - e se nada cabe na rima, deixa estar, me deixa ficar..quero viver...se não caibo na rima deixa estar, só quero viver.
-Brasília-DF
-Do imaginário poético
*Ref.a Mario Quintana - poeta brasileiro