HOJE

Hoje me peguei pensando na vida e em tudo o que já vivemos juntas, nas peças pregadas, nos tombos e arranhões, nas boas gargalhadas — aquelas que fazem doer a barriga — nos olhares incertos, nos medos mais bobos, nas surpresas, boas e ruins.

Recordei os aromas e sabores, a vibração das cores e o odor das flores. Lembrei-me da infância, quando o tempo não corria, em que andar descalço era marca registrada. Bicho de pé — ninguém queria, mas a gente teve.

O cheiro do café da vó, o grito do vô:

— Passa aqui menino!

O milagroso beijinho da mãe, que tudo curava, o cheiro do bolo no forno, o leite entornado na mesa.

Dia de reunião, puxão de orelha pelo bilhetinho de cola na prova (quem nunca passou não sabe o que é aperto), bola na rua, pique-esconde, vidraça quebrada ... É hora de correr.

Na juventude ficamos mais retidos, pagar mico ninguém quer, mas um aqui, outro ali, quem não os solta???

Piquenique aos domingos, mãos dadas ao luar, cabelos soltos, sorriso tímido, beijo roubado, a vida me deu um namorado.

E assim ela segue entre nós e laço, ficamos com as lembranças de uma vida cheia de esperança. Entre altos e baixos, ela bate, mas ensina que feliz mesmo é aquele que é, acima do que tem.

Pois na sua exímia efemeridade, da vida nada se leva, tudo se deixa em caixinhas de lembrança na memória das almas, as quais tocamos.

Xícaras de Prosa
Enviado por Xícaras de Prosa em 20/09/2020
Reeditado em 07/04/2021
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