Naquelas tardes suaves, quando o vento soprava devagar e o sol já estava fraquinho, pegava minha bicicleta e era só começar a pedalar, e sentimentos antigos nasciam dentro de mim.
Moleca, cabelos meio avermelhados, uma franjinha marota cheirando a shampoo de camomila.
Lá eu ia, descendo e subindo ruas altas, deslizando nas ladeiras, abrindo as pernas tentando equilibrar-me e rindo da própria vida.
A bicicleta não era minha, era emprestada, mas os sonhos, ah! esses eram mesmo meus.
Pedalava, pedalava, depois subia as pernas no guidão e soltava as duas mãos. Naquele momento, com aquele vento, aquela liberdade escancarada, sentia meu coração bater na garganta!
Hoje quando pego minha bicicleta e começo a pedalar, meus cabelos ao vento, sinto aquela sensação de levar meu pensamento. Então pedalo, pedalo, e a calcada e longa e eu vou indo, indo, momento que nem penso e nem carrego meu iPod ou musica no ouvido.
Quero essa sensação de liberdade viva, quando contorno os buracos, subo as ladeiras, desço-as com velocidade. Sensação de controle, como se de repente eu estivesse controlando minha vida, meu destino, como se não houvesse tristeza e solidão e nem mesmo futuro, mas somente aquele momento.
Esse sol fraco tocando minha pele, o vento frio que eriça meus pelos, os meus cabelos que voam, meus lábios que se ressecam. Queria que a vida fosse assim!
Pedalando, pedalando, zunindo nas calcadas, juntando as esperanças, fechando os olhos e vendo meu cabelo a brilhar ao sol sentindo aquele cheiro de camomila.