TRINCA
Frente ao espelho
Observo uma trinca
Não sei se fala de mim
Ou dele próprio.
Numa imagem dividida
Um sujeito quebrado
Desconhecido
Dois em um, in-quieto.
Há um duplo caminho
Que sai de seu reflexo
Ambos são meus
Mas nenhum leva a mim.
Eles levam a solidão
De um coração obtuso
Nocauteado
Por palavras vãs.
Marcado pelo relógio
Me tornei irreconhecível
Confuso
Perdido em minhas mares.
Trago poesia em meu peito
Marcas nuas / minhas / suas
Cinzas de uma vida
Que deixei sem amar.
Ou
Por amar
Me deixei levar
Navegar
Em ondas frias.
Agora
Num espelho trincado
Em cacos eu vejo
A sombra do meu desencontro.
Me escondo
Daquilo que
Nem eu
Sei ser.