TRINCA

Frente ao espelho

Observo uma trinca

Não sei se fala de mim

Ou dele próprio.

Numa imagem dividida

Um sujeito quebrado

Desconhecido

Dois em um, in-quieto.

Há um duplo caminho

Que sai de seu reflexo

Ambos são meus

Mas nenhum leva a mim.

Eles levam a solidão

De um coração obtuso

Nocauteado

Por palavras vãs.

Marcado pelo relógio

Me tornei irreconhecível

Confuso

Perdido em minhas mares.

Trago poesia em meu peito

Marcas nuas / minhas / suas

Cinzas de uma vida

Que deixei sem amar.

Ou

Por amar

Me deixei levar

Navegar

Em ondas frias.

Agora

Num espelho trincado

Em cacos eu vejo

A sombra do meu desencontro.

Me escondo

Daquilo que

Nem eu

Sei ser.

Xícaras de Prosa
Enviado por Xícaras de Prosa em 16/09/2020
Reeditado em 07/04/2021
Código do texto: T7064408
Classificação de conteúdo: seguro