PISANTES

Pisantes

Descalça, andei sobre o chão da infância, senti pelos pés o solo Alegriense.

Com eles, e por eles, subi em jabUticabeiras, em laranjeiras, em goiabeiras e em mangueiras. Visitei fazendas e sítios, bebi do leite tirado na hora das tetas das vacas nos currais. Senti, perscrutei a vida no campo.

Corri por entre cafezais, enchi laminado, subi em árvores, mesmo que em algumas, não tenha conseguido descer.

Apostei corrida sobre bicicletas, corri para não apanhar de amigos na saída da escola, joguei queimadas, betes, vôlei, pique esconde, amarelinha e bola de gude.

Banhei-me nas cachoeiras e riachos, chegando até eles caminhando, conheci o silêncio das matas.

Calcei tênis e sandálias, gastei-os ao caminhar para ir a escola, igreja e até a casa das amizades.

Esgotei na mocidade, até o surgimento da tendinite plantar no pé direito, o gosto do uso do sapato de salto. Tive todos, detalhe, EM COURO, usando mais os preferidos; verde, rosa, amarelo e marrom, expondo as meias finas bordadas nas pernas bem torneadas. Amava-as, as comprava no Diobel, com dinheiro chorado ganhado de papai.

Explorei os quatro cantos da cidade amada até o último limite.

Caminhei, degustei da meditação analítica depois de moça, sem ter esgotado a satisfação, que ainda trago guardada reservada no peito para uso na nova florada.

O arzinho da tarde, este de início de setembro, quando as primeiras chuvas primaveris apareciam no horizonte. Como campainha, o badalar do sino, faziam por emergir das montanhas, o magnetismo do ar aumentado, e a umidade.

O capim agradecia, começando a se esverdearem. O gado na pastagem deglutiam melhor o menu. Até o barulho do Rio pinheirinho era escutado diferente a noite.

Pelos pés, saia na madrugada a caminhar com mamãe, uma ou mais irmãs; vivia a contemplação do nascer do Sol Alegriense, que despontava por entre as Serras e Montanhas que circundam a cidadela. Não perdendo o pôr dele ao final da tarde.

Dar-me-ei por caminhar de novo, no novo horizonte que está para despontar, mais forte, robusta e revitalizada, nesta ou em outro orbe, no futuro que está preparado desde a fundação dos mundos.

O que é eu e esta pausa do não caminhar, e a dor do mundo? !

O que é eu, as feridas e a dor dos pés que suplicam refazimento, com o mundo manco de sentido, nesta crise que a humanidade passa?

Minha dor e o desolo do mundo se misturam no ser, buscando o consolo no coração, encontrando morada; como rio sendo recebido pelo oceano, vindo sobre as águas, a esperança.

Ah! Se não fosse a esperança!

Ando devagar, porque já tive pressa....

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 15/09/2020
Código do texto: T7064063
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