Renascendo

Esse grande vazio que você deixou em mim, sei que vou precisar preencher sozinha. Já entendi - ou quase - que você não vai voltar. E, ainda que o fizesse, já não sei se encaixaria com a mesma perfeição de antes. Aliás, será que o encaixe foi tão perfeito assim? Mesmo que não tenha sido, não acho que foram as imperfeições que levaram ao fim. Tentar entender os motivos é uma das partes que mais me doem. Porque acho que procuro por respostas que não existem. Talvez não tenha nada para entender. Possivelmente, nada disso tenha mesmo um sentido. Só foi assim. Jamais saberemos se bastaria ter mudado uma coisinha aqui e e outra ali, ou se teria sido necessária toda uma reforma. O fato é que, seja o que for, não aconteceu. Se a gente quisesse, mesmo, não teríamos semeado o fim. Só que dói um pouco mais arrancar depois que começa a criar raízes. Eu gostava das suas raízes se entrelaçando nas minhas. Mas nossa relação simbiótica começou como mutualismo e se transformou em parasitismo. Antes, os benefícios eram mútuos. Depois, passamos a ser cada um, na visão do outro, um parasita prejudicando o hospedeiro. Já não fazia sentido cultivar essa relação. E, repito, não sei mesmo o que fez mudar daquilo para isso. Só sei que mudou e foi necessário arrancar. Só sei que ficou um grande vazio no seu lugar. Já não sei se ouso acreditar em relações simbióticas. Hoje procuro me afastar. Não sou parasita e também não quero alguém a me parasitar. Esse tal de mutualismo, não sei bem como fazer durar. Então fico aqui, preenchendo esse vazio que você deixou com raízes só minhas, mas hoje muito mais fortes. Você devia ver os botões, estou quase florindo outra vez. Farei amizade com as lagartas, com as borboletas, apreciarei meu próprio perfume. Aos poucos, estou finalmente renascendo.