CONVITE
Precisa-se de todos os versos
que bóiam dispersos
entre vitórias régias e aguapés
nos incontáveis rios da Amazônia...
Precisa-se de todos os versos
que cavalgam nos alforjes dos vaqueiros
esgueirando-se nas caatingas
entre angicos, cactos e mandacarus...
Precisa-se dos versos
que em velozes cavalos
percorrem a imensidão dos pampas
e dos que rompem com coragem
os alagados do pantanal
ao som das sinfonias dos berrantes...
Precisa-se dos versos
que florescem sobre as serras
ou mesmo nas campinas.
Dos versos silenciosos e contritos
que flutuam nas pequenas capelas
ou nas naves das grandes catedrais.
Precisa-se, também,
daqueles que diariamente
se envenenam com a fumaça das chaminés;
dos que dormem nos bancos das praças
ou sob os viadutos;
dos que mendigam perdidos
nas esquinas das grandes cidades
e ainda dos que se espreguiçam
ao sabor da brisa marinha
nas lindas praias do leste e do nordeste...
Sim, precisa-se de todos os versos,
ora dispersos,
que sejam ternos, inflamáveis,
ardentes, brilhantes,
inéditos ou desgastados,
esperançosos ou céticos,
alegres ou melancólicos,
simbolistas ou realistas,
simples ou complexos,
pujantes ou frágeis
simétricos ou livres,
decassílabos ou alexandrinos...
Precisa-se urgentemente
dos versos de todos os tamanhos.
Sim, precisa-se de versos,
de muitos versos,
de todos os versos.
É urgente.
É preciso realmente unir versos.
É preciso um universo de versos unidos,
de versos fundidos,
de versos profundos, de versos fecundos,
de versos sérios, de versos levianos,
de versos sagrados, de versos profanos,
de versos simples, de versos complexos,
enfim, de versos sem idade e sem cor.
Sim, é preciso que haja um universo
onde os versos campeiem livres e felizes
sem as imposições da métrica e da rima.
Um universo especial
onde os versos simplesmente
sejam fragmentos de um poema,
ou o próprio poema...
Por isso o convite é para todos.
Tragam aqui os vossos versos
ora dispersos,
pois precisamos urgentemente unir versos
para construção de um universo
de versos unidos
e ungidos de pura poesia...
Belém, setembro de 1980