Tô cansado.
Tô cansado
Cansado do afiado gume
Do respirar insalubre
Dos caminhos lúgubres
Cansado de tanto cansar
De tanto andar, parado no mesmo lugar
E no inerte momento que é a insignificativa existência
Acordar dos pesadelos sonhados acordados por minha contra insistência
Que me impedem de transcender ao alívio delirante dos sonhos dormidos
E com os olhos abertos sonhar
Fingir enxergar o que nunca está reunido
Tudo em pedaços, fragmentos do inteiro
Desprezados com a primeira urina da manhã
De uma noite que nunca existiu, nunca nos permitiu
Um falso escuro que nos cobre, nos abafa e nos encobre
Nos esconde de nós mesmos, enquanto fingimos que não somos
Que nem estamos, nunca ouvimos falar
Só a lua é capaz de contar nossos segredos
Os que escondemos e os que nem sabemos
Tô cansado de esperar
De correr pra alcançar o que por aqui jamais vai passar
Tô cansado
E nessa fúria " debatente", me rebelo insistentemente
Numa revolta quase calada, tímida e vilipendiada
Até o Cansaço bater à porta
E me olhando de cara torta, dizer:
- Deu pra ti!
Cláudio Saiere 05/09/2020