Coisas da Bom-Bom



As minhas duas gatas nem me falam!
A Luna, refastela-se no seu cadeirão, lava-se e dormita….
A Bom-Bom, desapareceu!
Esconde-se no estofo da cadeira, atrás dos livros na estante… é uma verdadeira Houdini quando lhe dá na telha, entram visitas em casa… etecetera.
Estão zangadas comigo:
Troquei a marca dos biscoitos: Pecado capital!
Estes, bonitinhos, coloridos e aromáticos peixinhos, continuam na tigela.
As barriguinhas habitualmente estufadas, aparentes almofadas, parecem agora lisas.
A “papinha gulosa”, húmida e saborosa, paté que nem dá trabalho aos maxilares, é coisa das manhãs preguiçosas.
Ficam restos no prato, o que me deixa frustrada, porque não é nada fácil manter esta rotina diária.
Mas, desleixada a mesa posta, vai e volta a fominha.
E lá aparece, silenciosa e fofa, a Bom-Bom, espreitando no umbral da porta, grandes olhos vocativos, um breve e raríssimo “miau”.
De coração partido, lá vou eu passar vistoria à tigela que deveria estar vazia, porém continua cheia.
Junto à porta da despensa, dispensa-se uma cadeira.
Na despensa estão guardadas as latinhas da bendita e almejada “papinha gulosa”, desjejum habitual.
Costumam decorrer os dias na maior tranquilidade:
A Bom-Bom cuida da sua beleza, rebola-se pelo chão, seduzindo quem tenha a sorte de mirar aquela barriga fofinha e as patinhas no ar.
Mas esta tarde, escutei um miau vindo da cadeira.
Era a Bom-Bom, pedindo que lhe abrisse a porta da despensa.
Fiquei de olhos arregalados perante tal demanda.
“Arre, que é lenta a entender”, pensou ela!
E vai de dar cabeçadas reboladas na porta, até que a dona percebesse a mensagem.
E lá fui eu, pressurosa, obedecer à minha patuda gulosa:
Avistada que foi a latinha, da tal gulosa papinha, cauda eriçada, narizinhoo no ar, bigodes alerta, vigiou a abertura da latinha.
Comeu, comeu mas…Não é que ficou quase tudo na tigela?!

Enfim descubro o estranho motivo:
Sua alteza mal petisca o saboroso atum, habituada que está a real mesa, onde impera o aroma a salmão.
- E a Luna? Perguntarão.
Essa belezura vive numa aura de inocência, muito mimo e ternura.
Pois é!
Criei uma gata burguesa, eu que da burguesia fui perdendo os genes à medida que crescia.
Pensam que inventei a estória?
Não, não! Existem provas e testemunhas desta rica vidinha…. Ai, quem me dera ser a minha própria gatinha!