Prosa de Compadre

- Senta aí, cumpade! A cumade vai passá um cafezinho pra nois.

- Êta, cumpade, mas que vista bunita ocê tem aqui!

E deitou os olhos na paisagem roceira, lambendo com a vista até as serras azuladas lá na frente.

- Ô cumpade, ocê não cansa de vê toda essa beleza aqui não? Esses brocotó de serra, que é furtacor, ora azulado, ora cinzento, ora amarelado; uns cortado de terra vermeia.. ô, que trem mais bunito, sô!

- Pois, cumpade, eu não canso de oiá, não! Porque memo não saindo nada do lugá, vem o besouro me anunciá uma visita; uma abeia conversá as coisa da colmeia, me contá que as frô da jabuticabeira tão gostosa demais... os passarim, um punhado deles, posa aqui pertim de mim, pois tem confiança que eu não vou lhes fazê mal algum, ou prendê eles numa gaiola prisioneira.

Se os morro não sai do lugar, já o céu, cada hora tá de um jeito... uma hora não tem nuvem nenhuma e o sol alumia tudo aqui embaixo. Ôtra hora, as nuvem imita os bicho ou as cidade. Ôtra hora a chuva faz nuvem de pinguinho e eu fico oiando o gado cabisbaixo, balançando seus rabo pra lá e pra cá. E no pomar sempre tem uma novidade. Uma árvore dano frô, outra frutificano, otras lutano pra sobrevivê ao ataque das furmiga cortadera. Se acendo meu pito, vem o vento e qué pitá meu cigarro, e eu não tenho coragem de xingá não, pois o vento tem o direito de ventá e é até bão pra refrescá o calorão do sol das duas da tarde. Os ipê amarelo e roxo vão pintando o cerrado aqui e acolá, cada dia mais um tiquinho.

- Pois é, cumpade, eu mudei pra cidade há muitos anos. Mas é aquela história, mudei da roça, mas a roça não saiu de mim. Eu sei bem apreciá essas coisa que ocê me fala. Sertanejo não chora não, mas meus zoio parece se esquecê disso e chega até ficá orvaiado. Essas beleza da roça, essas aí que ocê soube tão bem explicá, me oxigenam a alma.

A comadre trouxe o cafezinho cheiroso, nas xícaras esmaltadas, meio descascadinhas, mas muito limpinhas.

E isso foi bom para despistar a emoção do visitante.