IMPRESSÕES A UM JOVEM POETA

Fui apenas a borboleta voejando sobre palavras, selecionando, examinando-as com o encantamento de quem sente o frescor das flores nos canteiros do idioma para borrifá-lo com inusitados perfumes. Não sei se consegui sentir o que desejavas que eu fizesse quanto ao ritmo e à beleza. Houve exíguo tempo para dar formato e voz ao poema, e mais, sem conversas em amplitude e profundidade. Foram rarefeitos os diálogos para possíveis entendimentos. Somente estavam disponíveis os vocábulos, os quais são tijolos do pensamento, pois “a linguagem é a casa do ser”, como afirmou o filósofo Martin Heidegger. Sem elas é o Nada. Contudo, a Poesia estava ali displicentemente exposta, sem que se a tenha pressentido ou corporificado num poema vivificado – aquele que respira por si mesmo sem auxílio – porém, nele e com ele sempre acontecerá a individuação, o inesperado voo, singular e único. Parece-me que o conjunto textual ficou bem mais denso do que o que antes estava posto aos olhos e ao coração. Palavras organizadas surtem este efeito: o do mergulho em profundidade. Para justificar este encontro nem tão casual, confirmo que a densidade da palavra formando imagens é imanente ao poema: ela é o seu corpo, o seu casulo, a materialização comemorativa ao exercício do sentir. Nesse mundinho da comunicação pelos signos, sem a impressão tátil, corpórea, nada sobrevive. Contudo, a Poesia pode estar ali – inerte – esperando que o poeta-autor, pela palavra, lhe proponha o primeiro respirar, enfim, faça bater o seu coraçãozinho, que é o motor da vida. E quem vai fazê-lo viver é o poeta-leitor, pelo ato de leitura ou através da escuta de sua tímida voz. Lembra-te que são as imagens nascidas que fazem o voo da borboleta, pois palavras são signos – asas abertas para o voejar. Não esqueças de que, neste mundão planetário, tudo que é recém-nascido contém significantes e significados ainda não bem identificados até aquele momento de inauguração da vida. E eles são mágicos – voam por si – curiosamente fazendo o soprar do vento onde ele sequer havia. E mais, há virtuosos duendes bem complacentes nos jardins dos afetos. Para a palavra há sempre, nalgum momento, o doce lábio para a abelha ou o beija-flor.

MONCKS, Joaquim. POESIA A CÉU ABERTO. Obra inédita, 2020.

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