QUEIMEM OS NAVIOS
Quando as paredes me sufocam e o grito entala, meus olhos naufragam na imensidão da incerteza.
O meu peito viaja à deriva em meio a escura solidão e, sem entender a razão, ele se deixa afogar lentamente.
O que fazer quando você não se sente bem, quando as ondas da insegurança invadem a sua embarcação e os céus se torna negros e sem esperança?
Essa loucura está me desviando para o precipício.
Preciso reparar as velas, tapar os buracos e enfrentar a tempestade, mas sozinha eu não posso, pois os meus braços já estão cansados de nadar.
Os meus olhos não contemplam terra firme e os meus ouvidos, inundados, não me deixam ouvir a tua voz.
Eu preciso andar sobre as águas outra vez; ainda posso sentir o calor da tua presença me dizendo: — Vem.
Ah, Deus! Abra os meus olhos, destampe os meus ouvidos, não quero seguir sem te ter ao meu lado.
Preciso sorrir novamente, tocar-te, cobrir-me com o teu abraço.
Seja o meu farol, minha luz, meu guia.
Erga-me pela tua misericórdia e me faça velejar pelas águas do teu querer.
Rasga o meu peito com a tua paz e me sutura com o teu amor.
Alivia o meu fardo.
Vire a minha maré.
E então, os meus olhos verão o sol desbravar o horizonte, clareando a minha escura noite.
Dançarei sobre a mágoa, sobre as dores e darei adeus à costa solitária.
Prometo não olhar para trás.
Queimarei o navio e caminharem contigo sobre as águas da liberdade.