QUEIMEM OS NAVIOS

Quando as paredes me sufocam e o grito entala, meus olhos naufragam na imensidão da incerteza.

O meu peito viaja à deriva em meio a escura solidão e, sem entender a razão, ele se deixa afogar lentamente.

O que fazer quando você não se sente bem, quando as ondas da insegurança invadem a sua embarcação e os céus se torna negros e sem esperança?

Essa loucura está me desviando para o precipício.

Preciso reparar as velas, tapar os buracos e enfrentar a tempestade, mas sozinha eu não posso, pois os meus braços já estão cansados de nadar.

Os meus olhos não contemplam terra firme e os meus ouvidos, inundados, não me deixam ouvir a tua voz.

Eu preciso andar sobre as águas outra vez; ainda posso sentir o calor da tua presença me dizendo: — Vem.

Ah, Deus! Abra os meus olhos, destampe os meus ouvidos, não quero seguir sem te ter ao meu lado.

Preciso sorrir novamente, tocar-te, cobrir-me com o teu abraço.

Seja o meu farol, minha luz, meu guia.

Erga-me pela tua misericórdia e me faça velejar pelas águas do teu querer.

Rasga o meu peito com a tua paz e me sutura com o teu amor.

Alivia o meu fardo.

Vire a minha maré.

E então, os meus olhos verão o sol desbravar o horizonte, clareando a minha escura noite.

Dançarei sobre a mágoa, sobre as dores e darei adeus à costa solitária.

Prometo não olhar para trás.

Queimarei o navio e caminharem contigo sobre as águas da liberdade.

Xícaras de Prosa
Enviado por Xícaras de Prosa em 23/08/2020
Reeditado em 06/04/2021
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