Ao lado do jardim
As carpas estavam nadando. As águas eram cristalinas, e as carpas nadavam seu baile de cores.
As águas respingavam nas pedras, e que cheiro bom! Que cheiro de água, terra, pedra, vida e palco.
Eu estava apenas ali. Não sorria, não cantava, não falava. Eu apenas estava ali, esperando pelo espetáculo. As águas estavam correndo, sussurrando no meu ouvido sobre as saudades que eu sentia, o vento ria de mim.
Eles me diziam sobre coisas que eu não sei explicar, mas que eu entendi.
As carpas nadavam juntas. Passavam por debaixo da ponte, pintavam o fundo do lago de laranja. As carpas, todas elas, estavam ali, como sempre: curiosas, risonhas, sapecas.
E hoje... Hoje eu só esperava.
Eu ouvia os conselhos e as lembranças que a água me dizia, e as crianças gritavam e brincavam ali perto. As crianças... que um belo dia crescem, e talvez um dia esperem em frente ao jardim com carpas dançarinas. O jardim que tem cheiro de pedras úmidas. Então elas entenderão.
Um dia esses meninos estarão atentos, e perceberão tudo que a água que espirrava e escorria pelas rochas sempre teve a dizer sobre quem eles são.
Isso tudo só depois, que agora é hora de ter pressa, de fantasiar-se. Hoje as crianças precisam estar ali, apenas dançando e brincando bem do lado do jardim. Mas sem vê-lo.
Quando elas puderem vê-lo, quando elas descobrirem as confissões da roda d'água, cruzarão o portal do tempo... e já não serão mais crianças.