Ao lado do jardim

As carpas estavam nadando. As águas eram cristalinas, e as carpas nadavam seu baile de cores.

As águas respingavam nas pedras, e que cheiro bom! Que cheiro de água, terra, pedra, vida e palco.

Eu estava apenas ali. Não sorria, não cantava, não falava. Eu apenas estava ali, esperando pelo espetáculo. As águas estavam correndo, sussurrando no meu ouvido sobre as saudades que eu sentia, o vento ria de mim.

Eles me diziam sobre coisas que eu não sei explicar, mas que eu entendi.

As carpas nadavam juntas. Passavam por debaixo da ponte, pintavam o fundo do lago de laranja. As carpas, todas elas, estavam ali, como sempre: curiosas, risonhas, sapecas.

E hoje... Hoje eu só esperava.

Eu ouvia os conselhos e as lembranças que a água me dizia, e as crianças gritavam e brincavam ali perto. As crianças... que um belo dia crescem, e talvez um dia esperem em frente ao jardim com carpas dançarinas. O jardim que tem cheiro de pedras úmidas. Então elas entenderão.

Um dia esses meninos estarão atentos, e perceberão tudo que a água que espirrava e escorria pelas rochas sempre teve a dizer sobre quem eles são.

Isso tudo só depois, que agora é hora de ter pressa, de fantasiar-se. Hoje as crianças precisam estar ali, apenas dançando e brincando bem do lado do jardim. Mas sem vê-lo.

Quando elas puderem vê-lo, quando elas descobrirem as confissões da roda d'água, cruzarão o portal do tempo... e já não serão mais crianças.

Alessandra Martins
Enviado por Alessandra Martins em 22/10/2007
Código do texto: T704210
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