CASTIGO
®Lílian Maial
 
A poesia me inoculou ainda criança.
Todos tinham catapora, eu tinha poesia.
Nunca mais me livrei desse vírus.

A mãe do Tácito o colocava de castigo por dizer sonetos.
A minha também.
Mas eu era malcriada e dizia assim mesmo.

Na adolescência, passei a dizer trovas, setilhas e o diabo a quatro!
Padre Emile não me excomungou, ao contrário, confessou que também dizia uns versos, vez por outra, nos intervalos das missas.

Depois de adulta, foi a vez dos haicais e poetrix, e os danados dos tercetos me perseguiam.

Hoje continuo de castigo,
Carrego esse fardo de enxergar as mazelas e os perfumes.
Tácito também.

 
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