O tempo e a linha

Tirei um tempo para escrever essas linhas, embora eu não tenha certeza do tempo que gastarei com as linhas que serão escritas até o final em que tudo seja dito.

Não gasto tempo planejando, nem gasto linha costurando o que não foi planejado. Deixo o tempo do acaso e a linha temporal casual se resolverem como na relação de um triângulo amoroso: quem ama mais? Quem se entrega mais? Quem será o ferido, o traído e a causa de tudo ter acontecido?

Muitos perdem tempo catando respostas num emaranhado de linhas sem pontas ou de tantas pontas que não formam uma linha inteira.

Parece dor de cabeça, mas não é. O tempo não me permite dores. Existe uma linha tênue entre a existência das coisas. O tempo vai costurando as partes com a finalidade de que tudo se resolva, só que se esquece de usar uma linha com mais qualidade, esta acaba se desgastando, o trabalho é julgado alinhavado ou mera perda de tempo.

E enquanto essas linhas vão fazendo a textura do meu pensamento, o tempo é a agulha que me espeta vez por outra.

Vez por outra, gosto de passar meus dedos pelas linhas do meu rosto e sinto que o tempo não se perdeu. Ele tecia as linhas da minha existência, eu que absorto na vaidade não percebi.

A gente precisa parar e pensar no tempo, nas linhas entrelaçadas e refletir a imagem que somos. Não como punição, não é isso, mas para poder ter a humildade de reconhecer o trabalho do tempo com as linhas da nossa existência e, no final, reconhecer que nada é em vão, tudo tem o seu motivo de ser.

Eu sou tempo e linha o tempo inteiro. Sem ele, eu não caminho; sem ela, minhas marcas se perdem e se vão com o vento.

Marcus Vinicius