CORES                            
 
bem leve
o vestido:
azul
 
o batom:
rosa
 
de salto alto
veio pra mim,
 
o olhar:
incolor
 
seguiu pra janela
tirou o sapato:
sombra
 
subiu:
cinza
 
tirou a alma:
breu
 
gritei Camões:
- faça sentir ao peito
   que não sente!
 
quedou-se:
prata
 
desceu:
ouro
 
descalça
veio pra mim,
 
no olhar:
cores
 
Todo texto do projeto Nossa Árvore é para algum descendente, por mais distante que esteja...
 
  Era dinheiro em queda livre, Ernesto, se espatifando em sangue e restos humanos no chão da New York de 1929, quando da Grande Depressão financeira. Na mesma New York, em 2001, o ódio sequestrou dois aviões de passageiros espatifando-se em escombros e pedaços de muita gente, nas Torres Gêmeas. Já nossa personagem da poesia, teria consumado o ato extremo se não fosse atingida pelo torpedo da palavra certa....    
   Mas por que, Ernesto, querido heptadecaneto, por que falo tudo isso para você, um assunto já tão estudado sob diversos enfoques!? Porque este ato nega a infinitude da árvore, um ser vivo tão eterno quanto a alma. As folhas olham verde, as folhas que desistem de si mesmas olham incolor. Sabendo disso, estamos moralmente comprometidos em colorir a alma das folhas que desbotam; compartilha isso, Ernesto, 
a alma incolor é folha morta.

 Beijos do heptadecavô Cláudio