Eu, o tempo e a solidão...

 A solidão me é companheira. 
S
obrevivo a ela e vivo só com meu eu e os meus ais. Às vezes busco um amigo, mas ele não está. Ligo para alguém que me vem à mente, mas a linha está ocupada...

Olho a TV ou ouço uma canção que me faz desistir um pouco daquele estado letárgico em que o silêncio se junta a amiga solidão e volto para dentro de mim para ouvir o meu som.
Meu som bate descompassado, triste, alegre, sem forma, sem cor, sem dar ênfase a alguém, pois o meu som é meu e ninguém se junta a mim para ouvi-lo, vivenciá-lo e fazer tramas que possam conduzir-nos aos emaranhados caminhos do pensamento e da imaginação que cria formas, cores, sabores e deglute em ré. Se ninguém entendeu o que é deglutir em ré...
nem eu. Ou, quem sabe, em Sol que brilha e ostenta seus gritos em forma solo, com apenas uma voz, um instrumento e minhas sensações neurais.
E assim caminho pela longitude do tempo que não sei onde vai dar. Vou fazer um solo.
Mas volto a te ligar, a pensar em ti, a te acompanhar de longe e a desejar que você me chame. É...que apenas me chame para conversarmos e falarmos sobre a lua, sobre a luz do sol, sobre as poesias mais recentes, mas não adianta... Existe ela, aquela que está entre nós e vive a nos sufocar. Sim, aquela gazela, pele amarela, cabelos cinzentos, tingidos de um tom esvaído que se torna esverdeado ao misturar-se com o branco azulado.
Te chamei, mas você não podia falar direito.
Você estava no volante, dirigindo para longe, bem longe de mim e dos meus anseios de mulher.
Não importa, viva a sua vida, tenha seus amigos, sua mulher, seu cão, seu gato de estimação, seu periquito e seus papagaios... Existe um pássaro e um tapete que sabe toda sua história, em frente à porta, no chão amarelado e descascado pelos anos passados, cuja infância você nem sabia dele, já que não estava lá.
Abracei minha querida companheira da noite e dos meus dias...De mãos dadas a ela, tranquei meu coração e joguei as chaves no criado mudo. Que pena que ele não fala. É mudo. E com isso aumenta minha solidão e ela, minha companheira, fica mais forte e eu mais fraca, quase a sucumbir.
Queria ouvir as batidas de um coração junto ao meu, no mesmo compasso, é claro. Mas não adianta insistir, pois o meu compasso e minhas batidas são silenciosas.
Vou redimir-me. Que frase mais horrível! Mas é o que farei: Redimir-me-ei para que não caia no esquecimento das pessoas, não entre nos labirintos escuros da memória esquecida, não seja mais um número dessa sociedade de consumo anatômica, que apenas se molda ao corpo por conveniência, mas que nada tem, apenas o vazio, o cruento e o remelento ranço da esquizofrenia que ataca os loucos e os poetas.
Vá, siga sua direção para sua casa ou para qualquer outro lugar que eu não sei onde. Arranje uma companhia ou fique com a que você já tem. Arranje um outro bem! Enquanto isso, aqui estou, acompanhada da tristeza da amiga solidão. 

Sei que seguirei só até o dia em que alguém como eu, diferente de você, se juntará aos meus valores e deixará à vasa da sociedade para os loucos consumistas que dissolvem sonhos e amor em poeira, terminando como todos nós terminaremos, ou seja, encobertos por uma laje escura, trancafiados em uma gaveta ou incinerados num grande forno quando as luzes se apagarão e deixaremos tudo, inclusive a solidão desacompanhada, pelo menos sem minha companhia.
No meu portal da vida onde se lê: "Cá estamos nós: Eu, o tempo e a solidão..." será escrito no lugar das despedidas a frase: "Aqui jaz quem amou a vida e viveu com a solidão."
I don't want to be alone... I'm going to  seek a place where only love exists.
 
Meg Klopper





 
NATAL, UM MAR DE POESIA E PAZ”

ENCONTRO MUNDIAL DE POETAS
DEL MUNDO, DE 23 A 31/05/08
EM NATAL/RN.

 
MEG KLOPPER
Enviado por MEG KLOPPER em 21/10/2007
Reeditado em 07/01/2018
Código do texto: T703462
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