Tempo
Se a vida não apresentasse revés
Se os panos não revirassem ao avesso
Se tudo não fosse e viesse
Saísse e voltasse
Saída, retorno, chegada, tornando a sair
Se quando passasse a dor, ela não retornasse
Se os caminhos conduzissem sempre à frente
Então haveria o princípio, o meio e o fim
E saberia por onde começar a desfiar os fios do imenso tecido, do qual faço parte
São tantos caminhos que cruzam recortam, laçam entrelaçam, perdem-se e acham.
São tantas dúvidas
Empresta martelo, pregos, audácia?
Empresta coragem e determinação?
Por acaso tens tesoura?
Vou cortar todos os caminhos, com suas mágoas e medos
sonhos e anseios, vitórias e perdas.
Tenho pressa em chegar.
Desalinhavando os caminhos, em busca de atalho.
Não fala isso, guarda para você
Esconde esse medo lá dentro no âmago do ser
Mas não foi sempre assim
Não conhecia o embuste afiado crivado na carne sangrando
Sagrado legado que me foi deixado, formando uma disforme cicatriz
Fissura que não dói mais demais. Que sei que irá passar... um dia
O inverno nem me habitava ainda Estava em outra estação
Muita coisa mudou O tempo passou, escoando das mãos
Tempo que corre e não espera ninguém
Só ele não volta