Título, só por exigência do Recanto


Dessas mulheres que fazem parte do imaginário masculino desde o inicio dos tempos.
O corpo e o rosto pareciam esculpidos por Philippe Faraut.
Falava quatro idiomas, conhecia o mundo, portava-se com elegância, e perdoava tudo.
Olhou pra ela, ali, deslumbrante... mas ausente.
Apagada dentro dele.

E assim percebeu seu imenso cansaço.

Sentiu que não queria mais mulheres ótimas.
Estava cansado de Helenas.
Sempre encantadoras, boas de conversa, inteligentes, magras, perfeitinhas. Mas tudo nelas parecia atenuado, impassível até, se ousasse definir. Faltavam-lhes cores. Graça.
Boas para desfilar por ai, mas geralmente ilegíveis. E, quase sempre, ilegítimas.

Andava tendo pensamentos infinitamente miseráveis, sentia fome de crueza.
Queria alguém de verdade, que viesse com todas as emoções humanas, porque perdas e fracassos, além de inevitáveis, eram o tempero que andava lhe faltando.
Alguém que se divertisse com os próprios erros, que o fizesse sentir, pelo menos de vez em quando, que era ele o cara especial, o homem incrível.

Queria alguém que tivesse fome, que pedisse pizza, que escolhesse sabores que nunca tenham experimentado, que propusesse lugares triviais, fora do jetset, que não fosse previsível. Alguém que atravessasse o rio, que desejasse o outro lado, que conversasse com estranhos, que esquecesse vírgulas, que gostasse de prazeres sofisticadamente mundanos.
Uma mulher de excessos, ardente, intensa, curvilínea, com cheiro de pele, cabelo de ventania e olhos estrábicos.

Helena era incrível.
Mas era uma ausência.
Tinha certeza que se ela fosse menos, teria durado mais.

solange maia e publicado por ysabella
 
desconhecido
Enviado por ysabella em 04/08/2020
Reeditado em 05/09/2020
Código do texto: T7025983
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