Amada Cecília,
Eu sei que a vida, vez ou outra, massacra o peito. Eu sei da taquicardia e da sensação de que o coração – que carrega todo afeto de uma vida – vai se romper. Eu sei que você sente. Eu sei que a pele arrepia, estremece. Eu sei que as pernas, vez ou outra, perdem as forças. Eu sei que a gente chora até sentir que esvaziou. Eu sei que a cabeça dói. E que essa dor – interna – parece não ter hora para arrefecer. Eu sei que na sua memória, os dias do passado parecem um filme daqueles que a gente se comove sem nem saber por quê. E o futuro parece que esvazia os pulmões tamanha ansiedade que causa. Eu sei que o amor, Cecília, nem sempre é um mar de rosas. Vez ou outra, esbarramos em mundos sem um pingo de afeto. E é até difícil acreditar que esses mundos são feitos de gente. A vida nos deixa de joelhos. Você que vê, que sente, que chora, que dói, que ama, que arde. Sua sensibilidade é a sua fortaleza. Eu sei que em alguns dias você vai acordar e sentir que tudo transbordou até perder o sentido – inclusive a dor. E nesse dia, vai querer ficar na cama. Vai sentir que te falta coragem. Mas eu posso te pedir uma coisa? Não desiste da vida, não, mulher. Não desiste do amor. Não desiste de sorrir. Você, que tem encarado tudo com tanta coragem, só precisa permanecer aqui, viva. Você vai recomeçar quantas vezes for preciso, você vai abraçar quem ama, você vai ser luz. Você vai florescer. E quando florescer você vai saber que só floresceu porque aceitou a chuva e não desistiu de viver o seu destino de flor.