Tentei escrever para meu amigo
Tentei escrever para meu amigo do Recanto.
Mas essa fonte Helvética paga pelo Editor compromete o ordenado.
E ainda por cima que ele
podia estar entrevado
já que a Chikungunya o pegou de sobressalto.
As dores reumáticas tomaram o lugar das dores de amores.
Não deixe de ser poeta meu amigo !
Não deixe o pássaro poeta alienado no aplicativo.
Você já beirando os sessenta,
mas o vigor de homem de caráter. O tempo é o seu compromisso.
As veias do lirismo latino o arrebatam.
E você sai de sobretudo no maior calor do inverno austral só porque fica mais bonito.
As plantas herbáceas estão dando flores singelas e artesanais :
margaridas, girassóis, acácias. Flores do campo enfim.
Quem te disse que Rosa ainda espera seu buquê?
Se ela agora o cultiva no próprio jardim.
Ainda irei à sua porta.
Vou molhar todos esses Cactus que deixaste sedentos.
Vou pegar seu jornal proletário e pô-lo embaixo da soleira da porta.
Vou te levar o doce de caju em compota.
Coisas que só fazem os bons amigos.
As tardes que passamos tomando expresso e o poker jogado.
Me contaram que a viúva ganhou na megasena.
No setembro do acumulado.
Levei um presente para a marrentinha.
Pobre menina orfã.
Sua triste sina era lembrar das Barbies que nunca ganhou no aniversário.
Tirei naquelas máquinas de jogo de garra uma boneca da Superpoderosas.
Acho que ela apreciou, pois o sorriso foi que nem o do coringa.
Ainda componho breves poemas.
Tentei elaborar uma valsa vienense.
Mas a sacana da vizinha ouve Anita e me arrebenta a concentração.
Essa mulher deve estar tomando vermífugo para caramba !
Durmo mais agora e tomo vitamina C.
Temos que nos cuidar viu. Até comprei uma máscara do Batman.