Boleros esquecidos

Boleros esquecidos nas teclas amareladas são recolhidos pelo passear dos dedos sob o solfejar das saudades. Sons de piano gotejando madrugada insone, onde o silêncio de marcas de batom brinda bordas de taças vazias, sobre o barzinho na sala.

Janela entreaberta; Lá de fora, um luar espia a brisa ensinando sensualidades às cortinas. No meio de um abraço, na foto, sobre a mesinha de centro, um afago rápido, passeando desejos e revivendo perfumes. Nas paredes, os quadros em suas molduras antigas não cansam de ouvir a arte das tintas deixadas em paisagens.

Deixo os boleros caídos aos pedaços e fecho o piano. Recosto-me no sofá. A luz tênue de um abajur imprime solidão até onde consegue alcançar.A tristeza veste seu traje de gala, cravejado de diamantes líquidos. Desprendidas dos olhos, desfilam em declive, pelas faces.

No recôndito do ser, as cerrações espalmam opacidade nos vales das emoções. E os jardins de prazeres se desnudam em lamentos.

Madrugada segue regando de orvalhos, os lugares por onde caminhas com sua capa preta. Vou pro quarto. O espelho está à espera de um diálogo comigo mesmo. Quer me contar de meu olhar. Ignoro-o. Prefiro ausentar-me, nas partituras dos boleros esquecidos. Em tantos deles, tinha teu rosto colado no meu.

Takinho
Enviado por Takinho em 29/07/2020
Reeditado em 21/08/2020
Código do texto: T7020400
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