Desolação

19/10/2007 – Capela do Assentamento “Noite Negra”, Município de Minaçu – Go.

Desolação...

O sol se levanta lentamente

Sua cor era avermelhada e triste

Havia uma cortina que fechava seu esplendor

A fumaça das queimadas criminosas.

Retalhos de sombras ainda pairam nos vales

As grotas secas tingidas de preto

O rastro deixado pelas labaredas do fogo ímpio

As cinzas despencam dos galhos queimados das árvores.

O lugar é denominado de Noite Negra

Composto de altaneiras montanhas e vales

Águas limpas promanam dos boqueirões

Serpenteando por entre pedras a regar a vida.

Os pássaros cantam triste e denunciam

A vida está morrendo em dor

As labaredas continuam no tramonto

Estalandos tabocas e arbustos a arder.

A desolação aperta a alma ao ver tudo morto

Os sertanejos tristes sem poder fazer nada

O fogo ladeira acima parece denunciar

O sorriso sarcástico de quem o ateou.

Cercas e pastos se tornaram cinzas

Esperanças mergulham no morbidade do momento

A fumaça continua a subir

Um gavião enorme sobrevoa ao que sobrou

Terra seca e animais estorricados pelo fogo.

Vamos passando rumo à Capela do Beira Rio

O fogo está próximo dali a estalar

Seu som se confunde

Ao som do violão do Willian a dedilhar mantras cristãos.

O povo canta com a Verinha o Ofício da Imaculada

A canção parece triste mas contempla esperança

“Livrai-nos do inimigo agora e sempre...”

O inimigo é o fogo criminoso.

A fumaça vem trazendo cheiro de morte

A natureza retorcida e enegrecida pelas chamas

Uma folha queimada de capim vaguei pelo ares

Trazida pelo vento cai na página do meu breviário.

O padre sertanejo recita o breviário da esperança

O “Benedictus” lembra tal virtude

A esperança agora é pelas folhas verdes

A brotar daqui a alguns dias, pois a natureza resiste.

Resta um pedido: Manda-nos água, Mãe de Deus!

Adair José Guimarães
Enviado por Adair José Guimarães em 20/10/2007
Reeditado em 20/10/2007
Código do texto: T701703