Ângulo obtuso
Nunca menti para ti. Foste tu que te recusaste a acreditar na verdade em minhas palavras. Jamais tive a intenção de te iludir, pois qualquer coisa diferente disso seria injusta. Abri mão de um futuro plausível, pois o que querias era impossível, e não estavas disposto a aceitar o que eu tinha a oferecer. Tudo bem. Parti. E partiria outra vez para não te machucar. Até que tu voltaste e disseste que preferias te contentar com o que podíamos ser. Fiquei desconfiada, mas feliz. E não quis alimentar a desconfiança e deixá-la destruir a felicidade. Mas esta é sempre fadada ao fim. E, em meio a tantos bons momentos que compartilhamos, tu não podias mais te calar: querias mais, precisavas de mais. E eu não tinha mais para te dar. Digo outra vez, eu nunca criei essa fantasia. Deixamos tudo sempre às claras, ou, se te escondeste, não foi culpa minha. Já nem lembro como nossa história acabou. Pois as linhas de nossas vidas haviam se cruzado neste único ponto e trataram de formar ângulo obtuso, tendendo a um infinito onde nos afastávamos cada vez mais e jamais nos encontraríamos novamente.