Na primeira infância não entendia aquele desafio ano após ano.
Intrigada de véspera apelava para os avós e tias mais próximas. Nunca alcançava a resposta certa.
Minha mãe ficava bruta com minhas perguntas exaustivas.
Somente Tia Maria respondia-me num monólogo perpétuo:
- “Foi promessa”.
- “Promessa de quê, Tia? Promessa pra quê, Deus do Céu”?
Insistia com meus os olhos chorosos, sofrendo amiúde pelo cheiro da pólvora e o barulho dos fogos.
Nenhuma resposta vinha. Tia Maria silenciava sem dar brecha para eu esticar o assunto.
Todo dia cinco de Janeiro era a mesma coisa.
Meu pai soltava dúzias de foguetes enquanto minha mãe rezava um terço e cantava com toda a vizinhança uns hinos de agradecimento.
Eu morria de vergonha. Alheia e indisciplinada tentava fugir dos abraços. Depois do foguetório e da novena sempre era servido um café ou chá de canela com bolo de travessa, bolacha preta, doce de batata e broa de fubá.
Essa era a parte que eu mais gostava nos aniversários.
Nessa época eu era bem pequenininha e Jesus já era meu ajudador!
Muitos anos se passaram . Há duas semanas conversava com minha Tia Maria sobre isso..
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Até hoje sofro com barulhos de fogos.
Sou grata a Deus pela vida. Sou até bem feliz. Tenho saúde, uma família linda e amigos amados.
zenilda lua
Aprendi que todas as manhãs a gente aniversaria e quando se tem amigos por perto também se tem revoadas de anjos e ótimas garantias.