Direções
Eu me deito - é a hora da fantasia.
As mentes lá fora protestam o nascer de um azul despedaçado, roto, amargurado na pureza da rotina.
Em silêncio, eu rogo pelas verdades suprimidas nos gestos dos seus lábios, exclamadas no mirar dos seus olhos.
Sob a criação vertiginosa de encontros não realizados, de toques evitados, de sorrisos oferecidos, eu suplico calado as suas palavras nunca ditas.
O vazio das sílabas é tão cheio de mistério, tão irrequieto em seu lugar do nada, da inexistência dos por quês.
As páginas do meu calendário arrastam-se, prendem-se, quase que pedem para permanecer; eu rasgo as datas e amasso os papéis em que vão gravadas as suas letras, mas nunca os jogo fora.
É um mausoléu decrépito que me traça direções; são veredas, não caminhos, por onde sigo ofegante, buscando mais tua voz que a própria saída.
A porta não me diz nada.
As chaves não me bastariam.
Eu estou preso no seu silêncio.