Centésimo dia:

"A quarentena de um poeta"

Centésimo dia:

Passaram-se cem dias de isolamento social e me despedira do quintal dos pássaros canoros andantes, das plantas do jardim e da minha cabeleira grisalha a retornar com Maria Alice para o nosso lar com a promessa de toda semana visitar Asaph que derramava suavemente lágrimas emocionais de despedida.

Era muito necessário ter muita cautela, pois o inimigo ainda rondava a cidade, entretanto, diferente daquele que fora obrigado pelo tribunal a se precaver com o uso da máscara de pano, eu seguira as normas com toda conformidade.

Na metade do caminho se percebera a diferença de postura dos pedestres que maioritariamente preservavam suas vidas e aquilo se concretizou ao chegarmos no condomínio que nos levava a rota do sol.

As águas das piscinas estavam a se mexer lentamente a nos cumprimentar com a ajuda do vento que vinha do mar.

As aves se espantaram com o abrir das nossas janelas e bateram asas numa sinfonia percussionada.

O oceano enviava por meio do ar o seu rocio que chegava sem odor ao nosso novo aposento. Contudo, o que mais nos interessava era a mansidão daquele lugar cercado de matas e o mar. O gosto do regresso estava por todos os lados: no café, no banho, no jantar, na cama, ... Eu poderia ainda listar dezenas de debutes daquele precioso momento que durara algumas horas antes de fecharmos os nossos olhos quase em sintonia.

A noite se tornara testemunha dos dois mais belos sonos, pois ela nos observava a nos transmitir abanos com sua ventania que balançava os galhos das palmeiras gigantes ao redor do condomínio a nos encolher e a nos fazer envolver. O sol despertara somente o meu repouso e apresentava as nuvens brancas no claro lindo dia. Meu olhar ficara a mercê das imagens do céu e eu ficava a ver o aglomerado de gotas de cristais de gelo empurrado pela ventana de Deus a se formar em criaturas de minha mente:

Eu assistia a uma carruagem lotada de algodão doce, uma senhora de cabelos carapinhados brancos, um poodle gigante e tantas outras figuras que se desfaziam no ar. Essa fora a resposta da natureza que através de um dos seus adereços, me dizia:

“Quão bela é a sua imaginação, Poeta”

"Fim"

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 24/06/2020
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