Depois
É véspera de São João, o tempo chamou o frio, que se anunciou num belíssimo pôr-de-sol, alaranjado. Essa cor destacou -se também nos pastos poeirentos, onde o Cipó-de-São João chora copiosamente suas flores, dependuradas nas árvores retorcidas do cerrado. Viajando, vou deitando os olhos nessa paisagem regional, dobrando mentalmente os joelhos numa prece agradecida a Deus pelas dádivas sem fim em minha vida. Numa curva, uma canção veio passear na minha cabeça e eu balbucio: "... depois da curva na estrada, tem um pé de araçá. Sinto vir água nos olhos, toda vez que passo lá..." Os olhos marejaram quando o pensamento parou na palavra "depois". Esse "por vir" encheu-me de uma angústia indizível, por ser uma incógnita! A natureza parece não perceber o grande impacto que a pandemia do COVID-19 causou no mundo. Aqui no centro-oeste mineiro, o mês de junho continua fumarento, as flores do cipó florescendo, o nevoeiro matinal cobrindo delicadamente os pastos, qual uma cortina de voil, principalmente nos arredores do Rio São Francisco. Outro dia eu disse que a pandemia adiou a minha vida... Tudo fica para um "depois"!... Ora, eu que sempre quis viver no presente, no hoje, no agora. - Depois da pandemia iremos à praia; depois, farei aquela viagem tão esperada; depois lhe farei uma visita; depois farei isso, aquilo, aquilo outro... Depois o abraçarei, depois nos encontraremos, depois, depois, depois...
Puxa vida! Como o auto andou e minha emoção desandou...
Querido Deus, sou tão pequenina e inútil! O Senhor não precisa de mim para absolutamente nada. Já eu, preciso de vós em todos os tempos. Amém!